Caramba, Christian. Que texto. To com um choro na garganta porque me vi muito em suas palavras. É inacreditável como mesmo tendo vivido em lugares diferentes dos seus, a experiência da escassez tenha sido a mesma - o desajuste, a tristeza, a sensação de nunca ser bom o bastante para alguém. Meu abraço e, principalmente, meu agradecimento: foi uma honra ter lido suas palavras tão honestas.
Michele, reconheço o importante papel do seu texto no meu. Quando ainda considerava como abordar o assunto, ler seu relato me fez entender que poderia ir fundo na questão de sentir a pobreza, não apenas dizer que a vivo. Porque, talvez, a única esperança de uma sociedade mais justa esteja naqueles que de fato sabem o que a pobreza significa, e não naqueles que a veem numa planilha. Muito obrigado por isso e um forte abraço!
Cá estou eu lendo o teu relato, me identificando a cada parágrafo e pensando: NÓS, POBRES SONHADORES, NÃO TEMOS UM DIA DE PAZ… PORRA!!! Se te conforta em alguma coisa, minha vida é bem similar a tua e nessa semana meu carrinho fudido, ano 2009, arrebentou a correia dentada (não recomendo pesquisar sobre). Além de não estar dormindo bem desde segunda, porque não tenho um puto para arrumar o coitado, as crises de ansiedade não estão me deixando em paz... Resumindo, uma completa fudida! Sei que no fim tudo vai dar certo, mas a que custo??? kkkk Enfim, espero que tudo fique bem pra ti, sem grandes custos. hehe.
Christian que texto tocante! Conecta no mais profundo das nossas vivências e vergonhas. Recentemente escutei um podcast que também reviveu em mim como as questões de classe estão colocadas no nosso dia a dia, nos forçando de um jeito ou de outro a nos adaptarmos para pertencer.
Na faculdade fui bolsista PROUNI, e, sem dúvidas, esse foi um dos maiores choques culturais que me distanciaram dos demais em razão da classe social.
Desejando que todos nós possamos um dia não ter vergonha de sermos pobres e não precisar esconder as partes mais preciosas que constituem quem somos.
Quando criança, eu odiava ver as coisas legais na prateleira do supermercado e, então, ouvir meu pai mandando eu escolher o mais barato. Eu odiava ver minha prima, menos "estudiosa" e "obediente" que eu, ganhando presentes melhores em todas as datas. Eu odiava perceber que eu era mais pobre que o núcleo pobre das novelas que eu assistia religiosamente.
Como eu era uma criança boazinha, eu não falava nada. Mas eu cresci com esse misto de vergonha e ódio. Vergonha de ser pobre e ódio de um mundo que me oferece um montão de coisas, mas não me dá acesso a nada.
Eu me fiava na esperança de que, como a "criança inteligente" que eu era, eu fosse estudar bastante, conseguir um bom emprego, e ganhar muito dinheiro. Comecei escolhendo o curso errado — publicidade e propaganda — e terminei como vendedor de loja em outro país. E no supermercado, eu sou pior que meu pai: faço questão de comprar no Lidl porque lá tudo é mais barato.
Claro que hoje eu consigo racionalizar e ressignificar esse ódio que eu sentia na infância. Eu consigo reconhecer o esforço que meu pai fazia pras contas fecharem e valorizar cada coisa que ele colocou dentro de casa, por mais "pobre" que fosse. Mas só quem passou por esses sentimentos na infância entende a pedrada que é esse texto e a vergonha de ser pobre.
São quase 5h da manhã e eu senti tantas coisas lendo teu texto e não sei colocar em palavras ainda. Me reconheci tanto, tanto, especialmente em ser a rica na família e a mais pobre entre os amigos.
E aí com 18 anos meu grande sonho se realizou: passei na universidade pública no curso que sempre quis fazer. E aí me deparei com a classe média alta paulista sem saber como lidar porque enquanto tinha gente vindo do primeiro intercâmbio internacional, eu nunca tinha atravessado a fronteira do estado (e só atravessei uma vez em 2021 para ir ao casamento de uma amiga no Paraná, algo totalmente irresponsável financeiramente, mas valeu a pena).
Enfim, eu era a menina de ouro, bolsita na escola particular mais ralé que tinha em Santos e aí me formei na universidade e deu tudo errado. Sigo pobre, muito pobre. Ainda sou aquela menina de 15 anos fingindo que tá sem fome no McDonald's porque deu os 20 reais que o avô dava de mesada pro pai inteirar no botijão de gás. Só que eu nunca tive tanta vergonha, porque com 14 anos eu fui claramente descartada pela galera da escola por não ter telefone em casa (cortaram nossa linha por falta de pagamento).
Deprimida como sou e desempregada/autônoma-home-office, não recuso um convite pra sair, mas já aviso "tenho 10 reais" e meus amigos não se incomodam, porque ao menos essa riqueza eu tenho, mas com 32 anos eu fico aqui sonhando com o dia que serei eu a pagar a conta.
Espero que esse dia esteja perto tanto para mim quanto para você.
E por último, mas não menos importante: esse foi um dos melhores textos que li esse ano. A fluidez é incrível e o jeito que você descreve as situações é surreal. Nunca pisei em Floripa, mas visualizei cada cenário. Ganhaste uma leitora.
Muito obrigado pelo comentário, Isis. É curioso como, muitas vezes, o consolo do pobre é pensar que sempre tem alguém mais pobre ainda. Mas acredito que você vai realizar seus sonhos. E pagar uma rodada de suco para a galera ao melhor estilo Malhação.
Hahahah é exatamente isso! Tenho um grupo de amigos como nós, que tá sempre vivendo no limite da miséria e sempre volto pra casa de nossos encontros mais leve porque ao menos não estou sozinha nessa 😅
Que feliz te encontrar por aqui depois de não te ver mais no bsky e no meu telegram, Chris! Texto ótimo e profundo, me identifiquei mais do que gostaria. Perdi as contas de quantas vezes menti na adolescência (até mesmo na vida adulta!) por vergonha de dizer que não sabia/conhecia/tinha ido. Já tive (e às vezes ainda tenho) muita vergonha da minha história, da pobreza que mora lá e do quanto eu não pude fazer várias por causa dela.
Esse é um dos raros momentos no qual minha memória tá excelente hahahaha te recomendei rolés no rio quando veio para cá, mas não nos vimos pq eu estava viajando, era 2023. Inclusive, estive em Floripa agora no final/início do ano, mas não lembrava que você era daí! Enfim, bom te ler aqui e babar nos seus pratos lindíssimos ♥️
Ai, chega a ser agridoce ler o texto. O doce vem, nem sei, da nostalgia de bons momentos da infância? Eu só fui conhecer a classe média no colégio, quando passei para uma escola Federal dentro da UFMG e "todos" os meus colegas já falavam inglês e eram comuns as viagens, no mínimo anuais, ao exterior. Amtes eu achava que todo mundo ou era pobre como eu ou multimilionário como um artista global, não conhecia o meio termo. São engraçadinhos se esforçando para se misturar com os ricos de verdade kkkk
Agora, refletindo sobre o ponto do seu texto que mais me pegou, eu conversei há um ano com um amigo próximo exatamente sobre isso: o que o custo de vida vai te custar? Ter decidido morar com meus pais durante e após a graduação não foi e nem é nada fácil, mas esse amigo me fez ver que ou era isso ou não teria sequer plano de saúde enquanto me matar em algum escritório que odeio para ter o que comer. Que saúde mental há nisso? Só a de morar sozinha? Sozinha mesmo, eu e as moscas.
Esse mesmo amigo está de mudança nesse momento e pensando em ficar até o final do ano morando com os pais no interior pra economizar e dar entrada num apê. Aqui em BH com 3K ao mês você apenas sobrevive em uma kitnet e olhe lá. Eu e ele conversamos muito e vejo que tomar decisões com as quais não posso arcar totalmente no aspecto financeiro é o que mais tiraria minha paz. Tô com 28 agora, formei com 26 trabalhava na área, mas saí do CLT para um meio período para estudar pra concurso. Isso tudo pela benesse de ter casa própria e comida mesmo se o emprego faltar.
"Morar com pais é horrível" imagino que pra MUITA gente realmente seja, o convívio e as 4h de ônibus pro centro da cidade em dias presenciais, mas não ter nem garantia de um teto no mês seguinte me assusta muito mais. Acredito na minhas capacidade de conseguir me virar? Sim. Mas vale a pena esse custo de vida? Esse que custaria meus sonhos, estabilidade e sossego dos próximos 20 a 30 anos? Recalcular a rota é sempre importante e seu texto me lembrou da necessidade de estar fazendo sacrifícios pelo que realmente se acredita. Eu, no caso, acredito em sair daqui quando a casa que será financiada estiver habitável kkkkk
Lud, pelo menos você tem uma das maiores riquezas do universo: a comida mineira.
Falando sério agora, o conselho que eu daria para qualquer pessoa mais jovem é tentar fazer o convívio em casa funcionar para conseguir estruturar melhor o futuro, sem tantos gastos. Mas isso é muito difícil numa fase da vida em que não temos a inteligência emocional e a maturidade necessárias para resolver o passado, o presente e o futuro ao mesmo tempo. E, independentemente da nossa escolha, em qualquer momento da vida, não será uma decisão fácil. Para aqueles que saem de casa, desejo força.
Christian, eu nem tenho palavras para dizer o quanto suas palavras tocaram em minha alma. Eu sei exatamente tudo o que você disse e, muitas vezes, eu sinto vontade de voltar no pé da mata de onde venho e revelar para a menina que fui, que ali eu realmente era rica. Faz anos que venho pensando nisso. O capitalismo destruiu a verdadeira liberdade e colocou no lugar um ideal de realidade que não cabe no bolso da maioria das pessoas. O que eu preciso é aceitar quem verdadeiramente eu sou e negar essa força capital, que tanto massacra e faz sofrer. Florianópolis já foi uma cidade democrática, onde todos podiam frequentar praças e praias, hoje, infelizmente, não mais. Christian, você escreve tão bem, articula, de forma encantadora, ideias, pensamentos e sentimentos. Continue escrevendo, suas palavras podem acordar dentro de cada um de nós, a coragem de mostrar quem realmente somos, e saber que onde moramos não é uma questão só de escolhas e sim uma questão de sobrevivência. Christian, eu tiro o meu chapéu para você e, digo mais, você é o verdadeiro herói desta selva de pedras. Parabéns por ser quem você é. Muito obrigada por suas palavras. Bora lá criar um movimento de força, coragem, verdade e união. Como os hippies dos anos 70, vamos criar um estilo de vida que cria laços e fortalece a fraternidade.
Que texto honesto! Me identifiquei demais, mas talvez a raiva e a vergonha me deram ambição pra mudar a situação. Deu certo, hoje eu tenho orgulho das minhas raízes e deixo elas à mostra. Estou saindo de uma temporada bem pobre (mas ainda privilegiada com o marido pagando contas, mas isso foi uma martírio pra mim), acabei com toda a economia pq os planos que fiz mais recentes não deram tão certo. Foi bom voltar onde estive boa parte da vida depois de ter conquistado tanto. Me fez ver com outros olhos e também ter a certeza de que nada é permanente. Espero que as coisas melhorem pra você, estou na torcida.
Pouco dinheiro, mas muita vivência. Parabéns, cara! Que chegue logo a hora de, além de pedir desculpas, você possa dizer "obrigado " com a sinceridade que você já tem e bons presentes para dar.
A revolta que sinto é que o trabalho não sustenta a vida, somos descartáveis e nossa exploração é o deleite daqueles que nos exploram.
Todavia, acredito que quando sustentamos nosso desejo, somos verdadeiros, com nós mesmos e com os outros, o trabalho que não serve ao capital se torna afronta. Um perigo.
Parabéns, Christian, por seguir nadando contra a corrente. Por abraçar esse lugar que nos é imposto.
Muito obrigado, pelo texto, é de uma grande força!
É, certamente, um plano para que o trabalho não sustente a vida. Assim, ficamos presos a ele, aceitando o que aparecer, entregando a própria vida que trabalhamos para sustentar. Mas cá estamos, lutando por algo além. Um abraço, Pedro!
Caramba, Christian. Que texto. To com um choro na garganta porque me vi muito em suas palavras. É inacreditável como mesmo tendo vivido em lugares diferentes dos seus, a experiência da escassez tenha sido a mesma - o desajuste, a tristeza, a sensação de nunca ser bom o bastante para alguém. Meu abraço e, principalmente, meu agradecimento: foi uma honra ter lido suas palavras tão honestas.
Michele, reconheço o importante papel do seu texto no meu. Quando ainda considerava como abordar o assunto, ler seu relato me fez entender que poderia ir fundo na questão de sentir a pobreza, não apenas dizer que a vivo. Porque, talvez, a única esperança de uma sociedade mais justa esteja naqueles que de fato sabem o que a pobreza significa, e não naqueles que a veem numa planilha. Muito obrigado por isso e um forte abraço!
Cá estou eu lendo o teu relato, me identificando a cada parágrafo e pensando: NÓS, POBRES SONHADORES, NÃO TEMOS UM DIA DE PAZ… PORRA!!! Se te conforta em alguma coisa, minha vida é bem similar a tua e nessa semana meu carrinho fudido, ano 2009, arrebentou a correia dentada (não recomendo pesquisar sobre). Além de não estar dormindo bem desde segunda, porque não tenho um puto para arrumar o coitado, as crises de ansiedade não estão me deixando em paz... Resumindo, uma completa fudida! Sei que no fim tudo vai dar certo, mas a que custo??? kkkk Enfim, espero que tudo fique bem pra ti, sem grandes custos. hehe.
Vixe, Gaaby, de carro não entendo coisa alguma mesmo! Conseguiu resolver?
Christian que texto tocante! Conecta no mais profundo das nossas vivências e vergonhas. Recentemente escutei um podcast que também reviveu em mim como as questões de classe estão colocadas no nosso dia a dia, nos forçando de um jeito ou de outro a nos adaptarmos para pertencer.
Na faculdade fui bolsista PROUNI, e, sem dúvidas, esse foi um dos maiores choques culturais que me distanciaram dos demais em razão da classe social.
Desejando que todos nós possamos um dia não ter vergonha de sermos pobres e não precisar esconder as partes mais preciosas que constituem quem somos.
deixando o link do podcast que mencionei: https://open.spotify.com/episode/2K0zOEeUAKnDOMtyk2anxU?si=xdnwbAcjS96FW26Y9xqLPA
Tainara, obrigado pela dica do podcast! Vou ouvir sim. =) Um abraço por essa conexão.
Certeza que você vai encontrar alguém por amor, não pelas promessas capitalistas de construção do amor a partir de "experiências". Texto muito bom!
Muito obrigado, Felipe! Abração!
Quem tem vergonha de ser pobre?
Quando criança, eu odiava ver as coisas legais na prateleira do supermercado e, então, ouvir meu pai mandando eu escolher o mais barato. Eu odiava ver minha prima, menos "estudiosa" e "obediente" que eu, ganhando presentes melhores em todas as datas. Eu odiava perceber que eu era mais pobre que o núcleo pobre das novelas que eu assistia religiosamente.
Como eu era uma criança boazinha, eu não falava nada. Mas eu cresci com esse misto de vergonha e ódio. Vergonha de ser pobre e ódio de um mundo que me oferece um montão de coisas, mas não me dá acesso a nada.
Eu me fiava na esperança de que, como a "criança inteligente" que eu era, eu fosse estudar bastante, conseguir um bom emprego, e ganhar muito dinheiro. Comecei escolhendo o curso errado — publicidade e propaganda — e terminei como vendedor de loja em outro país. E no supermercado, eu sou pior que meu pai: faço questão de comprar no Lidl porque lá tudo é mais barato.
Claro que hoje eu consigo racionalizar e ressignificar esse ódio que eu sentia na infância. Eu consigo reconhecer o esforço que meu pai fazia pras contas fecharem e valorizar cada coisa que ele colocou dentro de casa, por mais "pobre" que fosse. Mas só quem passou por esses sentimentos na infância entende a pedrada que é esse texto e a vergonha de ser pobre.
"um mundo que me oferece um montão de coisas, mas não me dá acesso a nada", aí você resumiu tudo com maestria.
O problema, mesmo, é se não tem vergonha de ser podre.
São quase 5h da manhã e eu senti tantas coisas lendo teu texto e não sei colocar em palavras ainda. Me reconheci tanto, tanto, especialmente em ser a rica na família e a mais pobre entre os amigos.
E aí com 18 anos meu grande sonho se realizou: passei na universidade pública no curso que sempre quis fazer. E aí me deparei com a classe média alta paulista sem saber como lidar porque enquanto tinha gente vindo do primeiro intercâmbio internacional, eu nunca tinha atravessado a fronteira do estado (e só atravessei uma vez em 2021 para ir ao casamento de uma amiga no Paraná, algo totalmente irresponsável financeiramente, mas valeu a pena).
Enfim, eu era a menina de ouro, bolsita na escola particular mais ralé que tinha em Santos e aí me formei na universidade e deu tudo errado. Sigo pobre, muito pobre. Ainda sou aquela menina de 15 anos fingindo que tá sem fome no McDonald's porque deu os 20 reais que o avô dava de mesada pro pai inteirar no botijão de gás. Só que eu nunca tive tanta vergonha, porque com 14 anos eu fui claramente descartada pela galera da escola por não ter telefone em casa (cortaram nossa linha por falta de pagamento).
Deprimida como sou e desempregada/autônoma-home-office, não recuso um convite pra sair, mas já aviso "tenho 10 reais" e meus amigos não se incomodam, porque ao menos essa riqueza eu tenho, mas com 32 anos eu fico aqui sonhando com o dia que serei eu a pagar a conta.
Espero que esse dia esteja perto tanto para mim quanto para você.
E por último, mas não menos importante: esse foi um dos melhores textos que li esse ano. A fluidez é incrível e o jeito que você descreve as situações é surreal. Nunca pisei em Floripa, mas visualizei cada cenário. Ganhaste uma leitora.
Abraços
Muito obrigado pelo comentário, Isis. É curioso como, muitas vezes, o consolo do pobre é pensar que sempre tem alguém mais pobre ainda. Mas acredito que você vai realizar seus sonhos. E pagar uma rodada de suco para a galera ao melhor estilo Malhação.
Hahahah é exatamente isso! Tenho um grupo de amigos como nós, que tá sempre vivendo no limite da miséria e sempre volto pra casa de nossos encontros mais leve porque ao menos não estou sozinha nessa 😅
Que texto maravilhoso! Obrigada!
já tive muita vergonha qdo eu era criança. apenas uma criança. resolvi isso com o tempo.
Fico feliz por você conseguido resolver isso, Tatiane.
É muito cansativo não sairmos do lugar e vez ou outra regressar ao lugar de onde começamos
Que feliz te encontrar por aqui depois de não te ver mais no bsky e no meu telegram, Chris! Texto ótimo e profundo, me identifiquei mais do que gostaria. Perdi as contas de quantas vezes menti na adolescência (até mesmo na vida adulta!) por vergonha de dizer que não sabia/conhecia/tinha ido. Já tive (e às vezes ainda tenho) muita vergonha da minha história, da pobreza que mora lá e do quanto eu não pude fazer várias por causa dela.
Abraços! Espero te ver mais vezes por aqui
Poxa, ka! Não sei se sou o Chris que você pensa que sou, porque só usei o Telegram para falar com uma amiga russa, mas fico feliz com esse encontro.
Esse é um dos raros momentos no qual minha memória tá excelente hahahaha te recomendei rolés no rio quando veio para cá, mas não nos vimos pq eu estava viajando, era 2023. Inclusive, estive em Floripa agora no final/início do ano, mas não lembrava que você era daí! Enfim, bom te ler aqui e babar nos seus pratos lindíssimos ♥️
Que loucura! hahaha
Agora tenho uma vaga lembrança. Meu cérebro está uma pipoca Bilu, não sobrou nem o gosto. Desculpe… =(
Ai, chega a ser agridoce ler o texto. O doce vem, nem sei, da nostalgia de bons momentos da infância? Eu só fui conhecer a classe média no colégio, quando passei para uma escola Federal dentro da UFMG e "todos" os meus colegas já falavam inglês e eram comuns as viagens, no mínimo anuais, ao exterior. Amtes eu achava que todo mundo ou era pobre como eu ou multimilionário como um artista global, não conhecia o meio termo. São engraçadinhos se esforçando para se misturar com os ricos de verdade kkkk
Agora, refletindo sobre o ponto do seu texto que mais me pegou, eu conversei há um ano com um amigo próximo exatamente sobre isso: o que o custo de vida vai te custar? Ter decidido morar com meus pais durante e após a graduação não foi e nem é nada fácil, mas esse amigo me fez ver que ou era isso ou não teria sequer plano de saúde enquanto me matar em algum escritório que odeio para ter o que comer. Que saúde mental há nisso? Só a de morar sozinha? Sozinha mesmo, eu e as moscas.
Esse mesmo amigo está de mudança nesse momento e pensando em ficar até o final do ano morando com os pais no interior pra economizar e dar entrada num apê. Aqui em BH com 3K ao mês você apenas sobrevive em uma kitnet e olhe lá. Eu e ele conversamos muito e vejo que tomar decisões com as quais não posso arcar totalmente no aspecto financeiro é o que mais tiraria minha paz. Tô com 28 agora, formei com 26 trabalhava na área, mas saí do CLT para um meio período para estudar pra concurso. Isso tudo pela benesse de ter casa própria e comida mesmo se o emprego faltar.
"Morar com pais é horrível" imagino que pra MUITA gente realmente seja, o convívio e as 4h de ônibus pro centro da cidade em dias presenciais, mas não ter nem garantia de um teto no mês seguinte me assusta muito mais. Acredito na minhas capacidade de conseguir me virar? Sim. Mas vale a pena esse custo de vida? Esse que custaria meus sonhos, estabilidade e sossego dos próximos 20 a 30 anos? Recalcular a rota é sempre importante e seu texto me lembrou da necessidade de estar fazendo sacrifícios pelo que realmente se acredita. Eu, no caso, acredito em sair daqui quando a casa que será financiada estiver habitável kkkkk
Lud, pelo menos você tem uma das maiores riquezas do universo: a comida mineira.
Falando sério agora, o conselho que eu daria para qualquer pessoa mais jovem é tentar fazer o convívio em casa funcionar para conseguir estruturar melhor o futuro, sem tantos gastos. Mas isso é muito difícil numa fase da vida em que não temos a inteligência emocional e a maturidade necessárias para resolver o passado, o presente e o futuro ao mesmo tempo. E, independentemente da nossa escolha, em qualquer momento da vida, não será uma decisão fácil. Para aqueles que saem de casa, desejo força.
Christian, eu nem tenho palavras para dizer o quanto suas palavras tocaram em minha alma. Eu sei exatamente tudo o que você disse e, muitas vezes, eu sinto vontade de voltar no pé da mata de onde venho e revelar para a menina que fui, que ali eu realmente era rica. Faz anos que venho pensando nisso. O capitalismo destruiu a verdadeira liberdade e colocou no lugar um ideal de realidade que não cabe no bolso da maioria das pessoas. O que eu preciso é aceitar quem verdadeiramente eu sou e negar essa força capital, que tanto massacra e faz sofrer. Florianópolis já foi uma cidade democrática, onde todos podiam frequentar praças e praias, hoje, infelizmente, não mais. Christian, você escreve tão bem, articula, de forma encantadora, ideias, pensamentos e sentimentos. Continue escrevendo, suas palavras podem acordar dentro de cada um de nós, a coragem de mostrar quem realmente somos, e saber que onde moramos não é uma questão só de escolhas e sim uma questão de sobrevivência. Christian, eu tiro o meu chapéu para você e, digo mais, você é o verdadeiro herói desta selva de pedras. Parabéns por ser quem você é. Muito obrigada por suas palavras. Bora lá criar um movimento de força, coragem, verdade e união. Como os hippies dos anos 70, vamos criar um estilo de vida que cria laços e fortalece a fraternidade.
Muito obrigado pela leitura e pelo comentário!
Que texto honesto! Me identifiquei demais, mas talvez a raiva e a vergonha me deram ambição pra mudar a situação. Deu certo, hoje eu tenho orgulho das minhas raízes e deixo elas à mostra. Estou saindo de uma temporada bem pobre (mas ainda privilegiada com o marido pagando contas, mas isso foi uma martírio pra mim), acabei com toda a economia pq os planos que fiz mais recentes não deram tão certo. Foi bom voltar onde estive boa parte da vida depois de ter conquistado tanto. Me fez ver com outros olhos e também ter a certeza de que nada é permanente. Espero que as coisas melhorem pra você, estou na torcida.
Isso me lembra daquele trecho do poema "If", de Rudyard Kipling:
"If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings"
Que bonito isso!
Pouco dinheiro, mas muita vivência. Parabéns, cara! Que chegue logo a hora de, além de pedir desculpas, você possa dizer "obrigado " com a sinceridade que você já tem e bons presentes para dar.
Valeu, Jorge!
A revolta que sinto é que o trabalho não sustenta a vida, somos descartáveis e nossa exploração é o deleite daqueles que nos exploram.
Todavia, acredito que quando sustentamos nosso desejo, somos verdadeiros, com nós mesmos e com os outros, o trabalho que não serve ao capital se torna afronta. Um perigo.
Parabéns, Christian, por seguir nadando contra a corrente. Por abraçar esse lugar que nos é imposto.
Muito obrigado, pelo texto, é de uma grande força!
Abraços!
É, certamente, um plano para que o trabalho não sustente a vida. Assim, ficamos presos a ele, aceitando o que aparecer, entregando a própria vida que trabalhamos para sustentar. Mas cá estamos, lutando por algo além. Um abraço, Pedro!